domingo, 13 de fevereiro de 2011

alegórica desordem

Às vezes procuro por uma janela que insiste em manter-se entreaberta nas noites de calor e madrugadas de geada. Um dia, o primeiro em que reparei nela, tentei chegar ao seu extremo e puxei a pega com força, mas tão rapidamente como se tinha aberto, esvaneceu-se no lusco-fusco de uma tarde de inícios de Fevereiro. Passado um tempo, acordei à noite com uma luz, cor azul do céu, pura como o sol que feriu instantaneamente as minhas córneas, já frouxas de observar qualquer maleita e presenciar incontáveis acontecimentos. Interrogava-me de que se trataria tal fenómeno. Revirei a traseira da minha mente e deduzi que fosse a esperança a dar lugar à inocência do viver ou, quem sabe, o cansaço a tocar pacientemente numa das indeduzíveis pontas da criatividade. Deitei-me numa nuvem de sonhos onde retratos desconhecidos ilustravam paredes colossais. E quando o mundo me caiu aos pés, e decidiu virar a cara à mazela sem crosta que ainda reside nesta reles alma, a janela não voltou, não mais se atreveu a brilhar para dentro do meu quarto. Tenho a certeza que foi a esperança que decidiu mudar de casa visto o ânimo não regressar, embora possa ser a vingança a engendrar um plano grandioso para que este grande momento de troca espiritual passasse em branco. Ainda assim, continuo confiante, à espera que tudo se recomponha, sonhadora como em tempo algum.A.

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