Retrospectiva

Todos nós arranjamos maneira de nos magoarmos mais cedo ou mais tarde, ainda que uns sejam mais persistentes à dor que outros, ainda que haja quem resista mais à tentação de se entregar, chegando a um ponto onde não dá mais para evitar, magoamo-nos. Mas será que não vale a pena? Aliás, será que é preferível escondermo-nos atrás daquela capa, em que nos protegemos à nossa própria maneira de todos os (chamados) perigos que passam despercebidos atrás de uns olhos brilhantes? Todos nós arranjamos maneira de magoar alguém mais cedo ou mais tarde, por mais sensíveis ou (ditas) boas pessoas. É uma necessidade humana espezinharmos alguém até esgotarmos todas as nossas forças, e quer queiramos, quer não acabamos por fazê-lo, daí as personagens mudarem de lugar tão rapidamente, e quem agora é a vítima, amanhã pode ser o vilão. Porque o fazemos, sabendo que também nos fizeram a nós, e de tão amargo que foi nunca nos esqueceremos? Acho que é um segredo que ninguém revela nem aos melhores confidentes pois todos nós temos de fazer sofrer e suportar a dor que nos provocam por maior que ela seja. Ninguém conta o segredo porque todos nós temos de crescer conciliando todas as experiências pelas quais passamos, todos temos de sofrer, todos temos de fazer alguém sofrer, todos temos de sorrir depois da dor, todos temos de perdoar e ser perdoados, todos sem excepção.